O uso indiscriminado de termos como ansiedade, depressão e bipolaridade não apenas reforça estigmas, mas também compromete a compreensão dessas condições, atrasando diagnósticos e tratamentos adequados. Um dos transtornos frequentemente mal interpretados é o bipolar que, muitas vezes, é reduzido, de forma equivocada, a mudanças repentinas de humor.
A psicóloga da Hapvida, Michelle Costa, alerta para os riscos da popularização de termos psiquiátricos sem o devido conhecimento técnico, especialmente com a facilidade de acesso à informação na internet. “O fato de enquadrarmos uma pessoa com um transtorno sem uma avaliação profissional compromete a seriedade da condição e do tratamento necessário para quem realmente sofre com ela”, explica.
O que é bipolaridade – Segundo a Organização Mundial da Saúde, o transtorno bipolar – ou transtorno afetivo bipolar –, afeta cerca de 140 milhões de pessoas no mundo. Classificada no CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) como um transtorno psiquiátrico, a bipolaridade exige acompanhamento médico e psicológico.
A enfermidade é frequentemente alvo de mitos. Um dos equívocos mais comuns é associar o transtorno a oscilações constantes de humor. De acordo com a psicóloga, diferente de oscilações normais de humor, o transtorno bipolar é caracterizado por períodos prolongados de euforia (mania) e depressão (hipomania), que podem durar semanas ou meses.
“Não se trata de mudanças bruscas de humor ao longo do dia, como muitos imaginam”, explica Michelle. “O transtorno de bipolaridade é diferente do transtorno de humor, ele tem fases muito marcantes. Tem a fase de extrema euforia e a de extrema depressão, e elas são muito distintas. Quem tem bipolaridade, tem uma tendência a passar por um período longo dentro dessas fases”, completa.
Michelle aponta que outro mito é a ideia de que a bipolaridade afeta homens e mulheres de forma igual, quando, na realidade, a condição é mais prevalente entre as mulheres. Além disso, acredita-se que pessoas com Transtorno Bipolar sentem emoções de maneira mais intensa, o que não é verdade. Na fase de euforia, a aparente felicidade pode ser apenas uma impressão, enquanto a depressão permanece presente em ambas as fases da doença.
Desafios – Pessoas com transtorno bipolar enfrentam desafios para manter uma vida pessoal estável, especialmente em relacionamentos amorosos e amizades. A oscilação entre a euforia e a depressão afeta diretamente a forma como interagem socialmente. “Na fase da euforia, se é amigo de todo mundo, se projeta uma característica de muita felicidade, mas, na verdade, não se é amigo de ninguém. Já na depressão, há um isolamento extremo, sem vontade de conviver com outras pessoas”, relata a psicóloga.
Apesar de ser uma doença crônica, a psicóloga afirma que com o tratamento adequado, é possível seguir o fluxo normal da vida. “Pacientes que recebem acompanhamento médico apropriado, incluindo o uso de medicações e terapias, têm a chance de levar uma vida funcional e normal”, conclui Michelle.
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