Que rufem os tambores! A expressão do ano de 2024 foi: “brain rot”! E daí(?), há de perguntar aquele leitor mais desatento a essas indicações e eleições que, mais parecendo “aperitivos midiáticos”, portanto digestíveis, soam similares ao Oscar e ao Miss Universo. Convenhamos, aquele tipo de evento glamouroso que não serve para avançar um segundo nos ponteiros da existência e, sobretudo, da sobrevivência dos pacatos cidadãos.
Diria a eles que os eventos sazonais, tipo os citados nas últimas linhas, fazem parte indissociável de nossa famigerada sanha de classificar e louvar as “excelências” humanas, sejam físicas ou da ação criativa Nesse quesito se igualando, guardadas as devidas proporções, a eventos como as Copas do Mundo, as Olimpíadas e outros tantos.
No caso em específico da palavra/expressão em questão, sua eleição tende a identificar um “status” momentâneo da raça humana. Flagrar uma tendência. A intenção é nomear um dado cultural do momento, por meio da fotografia de um “comportamento coletivo”, uma mancha que seja na marcha civilizatória. Enfim, um dado que nos afeta, individual e coletivamente, com potencial de representar avanço ou retrocesso civilizacional.
Antes de mais delongas, “brain rot”, a expressão eleita “como a palavra do ano pelo Dicionário Oxford tende a refletir a era digital, ou melhor, o impacto dela nos comportamentos”. Trata-se de uma expressão em inglês que se tornou popular na internet para descrever um estado mental associado ao consumo excessivo de conteúdo digital de baixa qualidade ou irrelevante.
Mais: traduzida literalmente como "podridão cerebral", a expressão sugere uma deterioração cognitiva ou um embotamento mental causado por esse tipo de consumo.
Devidamente apresentados, espero algum herói questionar se não atravessamos um momento desses. A epidemia do “brain rot” está por aí se expandindo, sendo todos nós, em maior ou menor grau, mais cedo ou mais tarde, contaminados por ela.
Para ser paciente - e já na enfermaria descobrir que a contraiu - não custa muito. Basta se esbaldar no consumo de “conteúdos superficiais” (vídeos curtos, memes, notícias falsas), estar à “toa na vida” praticando o “doom scrolling” (hábito de rolar infinitamente pelas redes sociais, consumindo notícias negativas e alarmantes) e, finalmente, “excedendo tempo dedicados ao online”.
A expressão se classifica inicialmente apenas como uma tendencia de comportamento, não dispondo uma constatação científica que dê margem a um diagnóstico médico. Como nos conta Mr.Google, trata-se de um “termo informal utilizado para descrever uma experiência subjetiva relacionada ao uso excessivo de tecnologia”. No entanto, afirma-se, os sintomas associados ao "brain rot" podem ter um impacto negativo na saúde mental e no bem-estar geral.
Entre os principais sintomas da “enfermidade”, destacam-se a dificuldade de concentração e a redução da capacidade de análise. Além disso, aumento da ansiedade, depressão e isolamento social.
Rendeu matéria de televisão hoje, 14/01/25, a repercussão negativa entre as “celebrities” de todas as periferias a ameaça de desativação dos filtros estéticos das redes sociais. Tanta polvorosa que uma especialista em saúde mental foi convocada para analisar o impacto. Até porque se trata disso mesmo: um fenômeno derivado do uso exagerado e doentio das redes sociais.
Uma distorção que motiva problemas cognitivos e emocionais. A necessidade urgente de participar, de se embelezar, eliminar pequenos defeitos, consumir o desnecessário, fingir posses, sugerir intimidade com famosos, adotar posicionamentos equivocados sem reflexão e etc, são comportamentos sintomáticos da “brain rot”. É um “mal do século”? Uma sequela forjada pela tecnologia? Um dano colateral?, sabe-se lá. O certo é que anos a frente, vamos viver com a incidência dessa “mania”. Resta medir os custos sociais disso tudo.
por Edson de França
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