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O terror da estudantada

Educação exige adaptação às rotinas e disciplina. Além, claro, de muita atenção e concentração para captar ou extrair algo da peroracao professoral ou da leitura tatibitate. Mais tarde, aquele conteúdo ministrado será base da cobrança, que deverá ser regurgitado na folha em branco ou na temida prova oral.

17/07/2023 às 17h28
Por: Nailson Júnior Fonte: Edson de França
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O terror da estudantada

Hoje tenho certeza absoluta de que muita gente, até promissora, desistiu da escola por medo. Medo da temível tabuada, medo da Cartilha do ABC. Medo de ser cobrado, na realidade. Medo daquela hora fatídica em que a professora iria cobrar o decoreba dos 9x6 ou colher sinais de desenvoltura na soletração dos ABC e na grafia do ditado. 

A educação tem dessas coisas: instrui, tacitamente, pelo medo e em certa escala incita a desistência. Salvo os "gênios", curiosos por natureza, o resto é puro alvoroço. O lúdico da educação fica por parte de quem tem tendências natas para salas de aula e de alguns raros momentos de distração; o resto é tensão. Na realidade é um desafio, uma corrida de obstáculos. Por isso é baseada em etapas, estratificação por faixas etárias e delimitação de competências e habilidades próprias para cada segmento. O que induz o fulano a não desistir é o êxito, por menor que seja. Os mais desenvoltos, adaptáveis ou, ainda, mais malandros agulha, tendem a se dar melhor na façanha. 

Os forçados pelo incentivo vigilante (as vezes violento) dos pais também tendem a continuar martelando. Os outros, fogem. Em tempos passados e não haviam tantas cobranças por parte dos pais (sobretudo nas classes mais baixas, que não tem obrigações com a preservação  da honra e das tradições familiares), nem aptidão nata para os rituais de sala de aula, soltar pipa, fazer carrinhos de lata ou baladeira para matar o tempo e as lagartixas, jogar bola de gude ou brincar de cuscuz ou peixe era muito mais atrativo e produtivo. 

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Ser caubói ou índio, imitando Daniel Boone, em nossa época, era muito mais instrutivo. Gazear aula para ver O Túnel do Tempo na rede "televizinho" tava valendo. A escola formal, além de chata, impunha aquele medo fundamental. Ela significa, em certa medida, a introdução do menino no mundo das cobranças, da regularidade, da pontualidade e dos resultados protocolares. Ela só atrai realmente os "malandretes" nos momentos de ócio e distração com a "malocage" ou nos enamoramentos adolescentes, com os olhares espichados, por cima dos muros, para as "belas" do recreio. 

Sem cobrança, a não ser sua auto vontade e a liberdade, não se vai a escola. Que atrativos há lá? Atualmente, estar no celular a jogar, ver vídeos e produzi-los e muito mais instigante. A escola, a rigor, representa a chamada à obrigatoriedade da vida adulta. Alguns fogem alegando o inadaptabilidade à convivência grupal. Trata-se de um argumento válido,mas não dá conta do fenômeno em suas particularidades.

Educação exige adaptação às rotinas e disciplina. Além, claro, de muita atenção e concentração para captar ou extrair algo da peroracao professoral ou da leitura tatibitate. Mais tarde, aquele conteúdo ministrado será base da cobrança, que deverá ser regurgitado na folha em branco ou na temida prova oral. 

Assistir aulas é até bom, seja o indivíduo senhor absoluto de sua inquietude ou de sua passividade delirante. Durante elas, o ser tende a oscilar entre a atenção e a "zona de zorra" que escapa aos olhos do professor. Dar conta, prestar contas, noutra hora, ao que supostamente foi inoculado na mente são outros quinhentos. E ainda ter que ser avaliado por isso, numas provas que valerão como medidor de desempenho e rotulador do QI e do QE utilizado não é fácil, assusta. 

Creio, portanto, que para além das questionáveis qualidade do ensino, estrutura da escola, da rigidez aplicada ao processo e falta de estímulos básicos, o maior responsável pela desistência (ou evasão) é o medo. Medo do compromisso e da avaliação futura. Medo de ser submetido a provas que irão medir sua competência ao final. Medo de exibir, em público, suas habilidades, sabendo que, ao final dos períodos, todos saberão se você foi bom e eficiente ou não.  Fácil mesmo é mostrar habilidade nas competições informais dos folguedos de rua. Medo para o qual a estrutura educacional de que dispomos não tem condições de estirpar. Números frios de desempenho educacional atropelam os medos individuais. Se nem o estímulo, o acolhimento e o incentivo para os mais "capazes" existe, imagine para os "medrosos" e inadaptáveis em geral?

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