O jeans mais cobiçado do passado tinha nome popular e marca reconhecida. Chamava-se USTOP e era o representante mais “extravagante” de indício de qualidade na época. Por isso mesmo ser objeto de tanto desejo. Conferia, consequentemente, certo “status” a quem a trajasse e exibisse. Não se ouvia falar de outra marca concorrente. Nos conta a história: (...) em 1972 surgiu a primeira calça brasileira que desbotava igual as originais Lee: as US Top".
Parecia tão resistente, quase uma lona de caminhão, dura e durável. Era capaz de promover a graça de o signatário original da peça morrer, e a mesma permanecer usável por gerações. Exageros à parte, caso pegasse uma sujeirinha mais consistente era capaz de ficar em pé, autóctone, feito uma estátua.
Coisas do tempo em que o sapato "kichute" era sucesso entre a moçada do colegial e o Colégio União era o chamariz para os postulantes a uma vaga na universidade, via Vestibular Unificado da Coperve. Do tempo onde desfilar de tênis Montreal era o “must” e ostentar a camisa de uma unidade escolar privada era estar entre os “tops dos tops”, sinal exterior de posse, "inteligência" e “formação qualificada”. Imagine-se usando uma USTop.
As US, como nos conta a história, foram pioneiras no país. Chegaram e criaram um hábito de vestuário e uma dinastia. Após ela, muitas marcas foram surgindo e o jeans definitivamente incluído no guarda roupa informal dos brasileiros. Ele é sinal, em primeiríssimo plano, de moda casual, básica, curinga como a Tshirt. Combina com quase tudo.
Atualmente, no mundo corporativo formal, já substitui a indefectível calça social, compondo parceria com paletós e blazers e fazendo parte de altas reuniões executivas. De calças apenas, o tecido transformou-se em casacos, shorts, mini shorts, camisas e o escambau. Até biquíni de jeans já existem por aí para o deleite dos fashionistas.
Como prevê toda evolução, mudam-se os conceitos e a qualidade acompanha. Hoje acho não ser mais possível encontrar facilmente pano de jeans similar ao primitivo US e, talvez, nem aquele seguisse a tez do original made United States. Por lá, sei, o jeans era utilizado para confecção de calças de mineiros, um povo que costuma viver solitariamente às margens da civilização, enfrentando as durezas dos recantos mais ermos em busca do sonho dourado.
O cariri pernambucano virou símbolo de polo produtor de Jeans, malgrado a escassez de água que afeta a região. Deus sabe lá como, Santa Cruz do Capibaribe veste o nordeste. O jeans, no entanto, passou por mudanças óbvias. Perdeu, por exemplo, o BLUE retinto dos primeiros dias. Anda clareado e compartilhado em múltiplos tons de azul. O pano afinou.
Nada mais garante sua longevidade. O tecido gasto ou mesmo rasgado virou moda. O mendigo, desde que in, virou moda. Quanto mais estragado for o tecido, melhor na fita o usuário posa. Tempos de ressignificação da mercadoria e do culto ao consumo do descartável.
O jeanswear lavado a pedra (stonewear), ao lado do acidwear, é moda. Quanto mais puído o tecido melhor. Quanto mais embranquecido, melhor. Quanto mais rasgado, mais chic e desejado. Quanto mais variedades e possibilidades de tons ele oferecer, melhor. Quanto mais transparente, frágil, fugaz e caleidoscópico na aparência ele se apresente, mais representativo do espírito do tempo que nos atravessa, nos conduz e lava, em pedra, será.
por Edson de França
Mín. 23° Máx. 27°